III Domingo do Advento
Cristo é a luz e João é a testemunha da luz. Uma vida iluminada testemunha a existência da graça. Mas, como não se percebe a graça com os sentidos, se lhe reconhece através dos efeitos: quem tem Cristo sabe qual é o sentido da sua vida e age em consequência.
Como se sabe a prudência é a virtude que visa o reto agir, é a virtude do bom governo. E todos nós precisamos governar algo, sempre: a própria vida, as decisões, a família, o trabalho, os empreendimentos etc. Precisamos, portanto, daquela reta razão, que é uma luz, que nos ajuda a fazer bem o que temos que fazer em cada momento. É bem conhecido aquele conselho de S. Bernardo de Claraval: “qui sapiens est doceat nos, qui sanctus est oret pro nobis, qui prudens est gubernet nos!”; agora em português: “que o sábio nos ensine, que o santo reze por nós e que o prudente nos governe”.
Há mulheres impressionantes, que tem um bom senso e uma maneira de aproveitar o tempo que causa verdadeira admiração: trabalham meio período na casa dos outros e são eficazes tanto no trabalho de fora como na própria casa. A mulher prudente se entrega ao serviço de todos com um sorriso nos lábios: educa os filhos, faz a comidinha do marido, reza o terço, consegue tempo para ler um bom livro e ainda ajuda a fazer os deveres de casa da criançada. Há outras que são tão imprudentes que ainda que tenham duas empregadas em casa são um verdadeiro desastre: estão sempre correndo atrás de algum atraso, atrapalhadas, não encontram nada na própria bolsa… Coitadas! Falta-lhes prudência para governar a própria vida e a própria casa.
Sem dúvida também são imprudentes aqueles homens que não sabem se posicionar nem na própria casa, vivendo uma vida como a daquele marido que estava contando a um amigo como era o seu fim de semana: “é muito divertido – dizia ele –, pois eu leio, toma a minha cervejinha, durmo, vejo um bom filme”. O amigo, interessado na vida nada atormentada daquele sujeito, pergunta: “E a sua esposa? Ela também se diverte muito?”. Ao que o amigo responde: “Claro que sim, ela pinta”. “Puxa, que legal – diz o outro –, eu não sabia que ela era pintora. E o que ela pinta? Telas, porcelanas…”. Ao que o marido daquela senhora responde: “Não. Ela pinta as paredes: num fim de semana ela pinta um quarto; noutro, a cozinha; noutro ainda, a sala; e assim por diante”.
Esse marido imprudente está procurando, no mínimo, a separação, por mais que ele diga que ame a esposa. A pessoa prudente, ao contrário, procura adiantar-se aos acontecimentos porque é previdente, é capaz de ver a situação dos outros, de analisar as coisas com base na própria experiência e na de outros; o prudente encontra tempo para tudo. A pessoa que pratica a virtude da prudência não é necessariamente um gênio, é simplesmente uma pessoa que se deixa guiar pela reta razão, pela luz natural da razão e pelo bom senso.
No cristão, a virtude cardeal da prudência é uma disposição elevada pela graça de Deus. A luz de Cristo, da qual João Batista foi testemunha, iluminou também as nossas vidas fazendo-nos as suas testemunhas. Um discípulo de Cristo sempre terá tempo para Deus e para os outros; procurará administrar o seu tempo de tal maneira que possa fazer muito apostolado, em primeiro lugar na família e no trabalho, depois em outros lugares e circunstâncias; estará atento às necessidades da própria alma e dará o primeiro lugar à sua vida com Deus (oração, confissão, Missa dominical, devoção a Nossa Senhora etc.); se é estudante, procurará não atrasar matérias através de uma dedicação diária e intensa a cada disciplina; enfim, um homem de Deus, uma mulher de Deus, dependerá em grande parte do exercício da virtude da prudência para chegar à santidade e para conduzir os seus amigos a Deus.
No Tempo do Advento, é prudente, por exemplo, não deixar a confissão que prepara para o Natal para a última hora, pois quanto mais se aproximam as festas natalinas, mais aumentam as filas para as confissões. Como a prudência é uma luz que vai norteando, dirigindo a nossa vida para que atuemos bem em cada momento, não vamos deixar as coisas que dizem respeito à glória de Deus, ao bem da nossa alma e da dos demais para a última hora. Deus é o nosso fim, o nosso Sol, o nosso Norte; para ele e iluminados por ele somos encaminhados.
Pe. Françoá Costa