Só podemos entender a alegria sem sombras que caracteriza a festa da Páscoa se compreendermos antes o que significa amar e ser amado, e o que é saber que Cristo, por quem suspiram, mesmo sem sabê-lo, todas as almas, está vivo e mais perto de nós do que nunca.
Uma feliz e santa Páscoa! Hoje, a alegria pascal nos invade o coração. Mas de onde vem, afinal, a alegria deste dia? Muitos a confundem com a alegria do Carnaval; mas esta é uma alegria efêmera, é a alegria de um prazer fugaz, é a alegria que dura o que duram as sensações de uma festa agitada, de uma refeição desmedida, de risos e gritarias sem sentido… O que é, pois, a alegria de que falamos aqui? Ensina-nos o Doutor Angélico que a alegria verdadeira está necessariamente ligada ao amor. Mas analisemos com cuidado o que significa “amar”, palavra tão mal usada e ainda pior vivida. O amor, se é autêntico, consiste antes de tudo em querer o bem da pessoa amada: de fato, é impossível amar e, ao mesmo tempo, não querer que esteja bem aquele a quem amamos. Contudo, se meditarmos com um pouco mais de atenção, veremos que isso ainda não é tudo o que pode dar de si um amor mais profundo. Podemos, por exemplo, “amar” o nosso time de futebol, porque lhe desejamos muitas vitórias. Trata-se, também aqui, de uma forma, imperfeita embora, de amor de benevolência; mas tampouco isso é amar com profundidade.
Por quê? Porque é próprio do amor verdadeiro, do amor digno de assim ser chamado, o desejo de unir-se ao outro. É o amor que um esposo tem à esposa, que a mulher tem ao marido. E é precisamente na união efetiva entre os amantes que surge a alegria. A verdadeira alegria, portanto, tem sua origem nestas duas coisas: de um lado, o amor que quer o bem do amado, quando ele está ausente, e quer unir-se a ele, quando o tem presente; de outro, o amor que finalmente se consuma na união entre dois corações. Por isso, podemos dizer, num primeiro sentido, que amamos a Jesus, ao nos alegrarmos com o grande bem da sua Ressurreição: o desprezado, o ferido, o morto e sepultado tornou à vida! E quem não se havia de alegrar se um amigo querido voltasse dos mortos para nos matar a saudade? É por isso que, ao longo do tempo pascal, fazemos eco aos gozos que enchem o Coração de Nossa Senhora, que vê seu Filho vivo e glorioso: Regina caeli, laetare, alleluia — “Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia”!
Mas, justamente por estar vivo, o Senhor não está mais ausente: se lhe queremos bem, porque o amamos, podemos com maior razão querê-lo perto e unido a nós, porque Ele está realmente conosco: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20). É verdade que o não vemos, como o viam os Apóstolos, com olhos de carne; mas não é menos certo que, pelo mérito da fé, que não vê aquilo em que crê, temos a Cristo de uma maneira até mais especial do que tiveram os mesmos Apóstolos: estes o tinham ao lado, e nós o temos dentro do coração; estes o tinham ora aqui, ora ali, ora na Judeia, ora na Galileia, e nós o temos sempre e em todos os lugares. Ressuscitado e glorioso no céu, Cristo nos acompanha aonde quer que vamos, alcançando-nos docemente com o toque de sua graça, abraçando-nos com as batidas de amor do seu S. Coração. Se Ele, que nos ama mais do que amamos nós a Ele, assim está unido a nós, e se temos de fato o propósito firme de o amar acima de tudo, como não nos vamos alegrar? O nosso Amigo, o nosso Bem, o nosso grande Amado está realmente vivo, está realmente conosco: e Ele será, hoje e para sempre, a nossa única e verdadeira Alegria!
Uma feliz e santa Páscoa!
Assista o vídeo do Padre Paulo Ricardo:
https://padrepauloricardo.org/episodios/por-que-nos-alegramos-na-pascoa