Segundo uma antiga tradição, os cristãos recordam “as sete dores de Nossa Senhora”: momentos em que, perfeitamente unida ao seu Filho Jesus, pôde compartilhar de modo singular a profundidade de dor e de amor do Seu sacrifício.
Seleção de textos de São Josemaria sobre cada uma das dores, para meditar e acompanhar a Mãe de Deus nestes momentos dolorosos da sua vida.
Primeira dor: a profecia de Simeão
Segunda dor: a fuga para o Egito
Terceira dor: Jesus perdido no Templo
Quarta dor: Maria encontra o seu Filho a caminho do Calvário
Quinta dor: Jesus morre na Cruz
Sexta dor: Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe
Sétima dor: dão sepultura ao Corpo de Jesus
Primeira dor: a profecia de Simeão
Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-nO a Jerusalém para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: “Todo o primogênito varão será consagrado ao Senhor”, e para oferecer um sacrifício, de acordo com o que diz a Lei do Senhor: “um par de rolas ou duas pombinhas”.
Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso, esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava com ele.
Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ver o Messias do Senhor. Impelido pelo Espírito, foi ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito, tomou-O nos braços, bendisse a Deus e exclamou:
“Agora, Senhor, podes deixar o teu servo partir em paz , segundo a tua palavra, porque os meus olhos viram a Salvação, que preparaste em favor de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo”.
Seu pai e Sua mãe estavam admirados com o que se dizia d’Ele. Simeão abençoou-os e disse a Maria, Sua mãe: “Este menino está aqui para a queda e o ressurgimento de muitos em Israel, e a ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos corações” (Lc 2, 22-35).
Nossa Senhora ouve com atenção o que Deus quer, pondera o que não entende, pergunta o que não sabe. Depois, entrega-se por completo ao cumprimento da vontade divina: Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. Vemos a maravilha? Santa Maria, mestra de toda a nossa conduta, ensina-nos agora que a obediência a Deus não é servilismo, não subjuga a consciência; pelo contrário, move-nos interiormente a descobrir a liberdade dos filhos de Deus.
É Cristo que passa, 173
Mestra de caridade. Recordemo-nos da cena da apresentação de Jesus no templo. O ancião Simeão asseverou a Maria, sua Mãe: Eis que este Menino está posto para ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. E uma espada trespassará a tua alma, a fim de se descobrirem os pensamentos escondidos de muitos corações. A imensa caridade de Maria pela humanidade faz com que também nEla se cumpra a afirmação de Cristo: Ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida pelos seus amigos.
Com razão os Romanos Pontífices deram a Maria o título de Corredentora: De tal modo, juntamente com o seu Filho paciente e moribundo, padeceu e quase morreu; e de tal modo, pela salvação dos homens, abdicou dos seus direitos maternos sobre o Filho e o imolou, no que dEla dependia, para aplacar a justiça de Deus, que se pode com razão dizer que Ela redimiu o gênero humano juntamente com Cristo. Assim entendemos melhor aquele momento da Paixão do Senhor, que nunca nos cansaremos de meditar: Stabat autem iuxta crucem Iesu mater eius, sua Mãe estava junto à cruz de Jesus.
Amigos de Deus, 287
Segunda dor: a fuga para o Egito
Depois de partirem, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para O matar”. E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe, e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes, a fim de se cumprir o que o Senhor anunciou pelo profeta: “Do Egito chamei o meu Filho” (Mt 2, 13-15)
Maria cooperou com a sua caridade para que nascessem na Igreja os fiéis, membros daquela Cabeça da qual Ela é efetivamente mãe segundo o corpo. Como Mãe, ensina; e, também como Mãe, as suas lições não são ruidosas. É preciso ter na alma uma base de finura, um toque de delicadeza, para compreender o que Ela nos manifesta – mais do que com promessas – com obras.
Mestra de fé. Bem-aventurada tu, que creste; assim a saúda Isabel, sua prima, quando Nossa Senhora sobe à montanha para visitá-la. Tinha sido maravilhoso aquele ato de fé de Santa Maria: Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. No nascimento do seu Filho, contempla as grandezas de Deus na terra: há um coro de anjos, e tanto os pastores como os poderosos vêm adorar o Menino. Mas depois a Sagrada Família tem que fugir para o Egito, para escapar das tentativas criminosas de Herodes. E a seguir, o silêncio: trinta longos anos de vida simples, comum, como a de um lar qualquer de uma pequena aldeia da Galileia.O Santo Evangelho facilita-nos brevemente o caminho para entendermos o exemplo da nossa Mãe: Maria conservava todas estas coisas dentro de si, ponderando-as no seu coração. Procuremos nós imitá-la, conversando com o Senhor, num diálogo enamorado, de tudo o que se passa conosco, até dos acontecimentos mais triviais. Não esqueçamos que temos de pesá-los, avaliá-los, vê-los com olhos de fé, para descobrir a Vontade de Deus.
Se a nossa fé for débil, recorramos a Maria. Conta São João que, devido ao milagre das bodas de Caná, que Cristo realizou a pedido de sua Mãe, os seus discípulos creram nEle. A nossa Mãe intercede sempre diante do seu Filho para que nos atenda e se nos revele de tal modo que possamos confessar: Tu és o Filho de Deus.
Amigos de Deus, 284-285
Terceira dor: Jesus perdido no Templo
Seus pais iam todos os anos a Jerusalém pela festa da Páscoa. Quando chegou aos doze anos, subieram até lá, segundo o costume dos dias da festa. Terminados esses días, regressaram a casa e o Menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. Pensando que Ele se encontrava com a caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-Lo entre os seus parentes e conhecidos. Não O tendo encontrado, voltaram a Jerusalém à sua procura. Ao fim de três dias encontraram-nO no Templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a afazer-lhes perguntas. Todos os que O ouviam estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas. Ao vê-Lo ficaram assombrados , e sua mãe disse-Lhe: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos, à tua procura”. Ele respondeu-lhes: “Porque me procuráveis? Não sabeis que devia estar em casa de meu Pai?” Mas eles não compreenderam o que lhes disse. (Lc 2, 41-50).
O Evangelho da Santa Missa recordou-nos a cena comovente em que Jesus permanece em Jerusalém ensinando no templo. Maria e José caminharam a jornada inteira procurando-o entre os parentes e conhecidos. E, não o encontrando, voltaram a Jerusalém em busca dele. A Mãe de Deus, que buscou afanosamente o seu Filho, perdido sem culpa dEla, que experimentou a maior alegria ao encontrá-lo, ajudar-nos-á a desandar o andado, a retificar o que for preciso quando pelas nossas leviandades ou pecados não conseguirmos distinguir Cristo. Alcançaremos assim a alegria de abraçá-lo de novo, para lhe dizer que nunca mais o perderemos.
Maria é Mãe da ciência, porque com Ela se aprende a lição que mais interessa: que nada vale a pena se não estivermos junto do Senhor; que de nada servem todas as maravilhas da terra, todas as ambições satisfeitas, se não nos arde no peito a chama de amor vivo, a luz da santa esperança, que é uma antecipação do amor interminável na nossa Pátria definitiva.
Amigos de Deus, 278
Onde está Jesus? – Senhora: o Menino!… Onde está?
Maria chora. – Bem que corremos tu e eu, de grupo em grupo, de caravana em caravana: não O viram. – José, depois de fazer esforços inúteis para não chorar, chora também… E tu… E eu.
Eu, como sou um criadinho tosco, choro sem parar e clamo ao céu e à terra…, pelas vezes em que O perdi por minha culpa e não clamei.
Jesus! Que eu nunca mais Te perca… E então a desgraça e a dor nos unem, como nos uniu o pecado, e saem de todo o nosso ser gemidos de profunda contrição e frases ardentes, que a pena não pode, não deve registrar.
E ao nos consolarmos com a alegria de encontrar Jesus – três dias de ausência! – disputando com os Mestres de Israel (Lc 2, 46), ficará bem gravada na tua alma e na minha a obrigação de deixarmos os da nossa casa para servir o Pai Celestial.
Santo Rosário, Quinto mistério gozoso
Quarta dor: Maria encontra o seu Filho a caminho do Calvário
Acabava Jesus de se levantar da primeira queda, quando encontra sua Mãe Santíssima, junto do caminho por onde Ele passa.
Com imenso amor, Maria olha para Jesus, e Jesus olha para sua Mãe; os olhos de ambos se encontram, e cada coração derrama no outro a sua própria dor. A alma de Maria fica submersa em amargura, na amargura de Jesus Cristo.
– Â vós que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor comparável à minha dor! (Lam 1, 12)
Mas ninguém percebe, ninguém repara; só Jesus.
Cumpriu-se a profecia de Simeão: Uma espada trespassará a tua alma (Lc 2, 35)
Na obscura soledade da Paixão, Nossa Senhora oferece a seu Filho um bálsamo de ternura, de união, de fidelidade; um sim à Vontade divina.
Levados pela mão de Maria, tu e eu queremos também consolar Jesus, aceitando sempre e em tudo a Vontade de seu Pai, do nosso Pai.
Só assim experimentaremos a doçura da Cruz de Cristo, e a abraçaremos com a força do Amor, levando-a em triunfo por todos os caminhos da terra.
Via Sacra, IV Estação
Quinta dor: Jesus morre na Cruz
Junto da Cruz de Jesus estavam sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de de Cléofas, e Maria de Magdala. Ao ver sua mãe e, junto dela, o discípulo que Ele amava, Jesus disse a sua Mãe: “Mulher, eis aí o teu filho”. depois disse ao discípulo: “Eis aí a tua mãe”. E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa. Depois, sabendo que tudo estava consumado e para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: “Tenho sede”. Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam uma esponja no vinagre e, fixando-a a um ramo de hissopo, levaram-Lha à boca. Quando Jesus tomou o vinagre, disse: “Tudo está consumado”. E inclinando a cabeça, rendeu o espírito (Jo 19, 25-30).
Mas, no escândalo do sacrifício da Cruz, Santa Maria estava presente, escutando com tristeza os que passavam por ali e blasfemavam meneando a cabeça e gritando: Tu, que derrubas o templo de Deus, e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo. Se és Filho de Deus, desce da Cruz. Nossa Senhora escutava as palavras do seu Filho, unindo-se à sua dor: Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste? Que podia Ela fazer? Fundir-se com o amor redentor do seu Filho, oferecer ao Pai a dor imensa – como uma espada afiada – que trespassava o seu Coração puro.
De novo Jesus se sente reconfortado com essa presença discreta e amorosa de sua Mãe. Maria não grita, não corre de um lado para o outro. Stabat, está de pé, junto do Filho. É então que Jesus a olha, dirigindo depois a vista para João. E exclama: Mulher, aí tens o teu filho. Depois disse ao discípulo: Aí tens a tua Mãe. Em João, Cristo confia à sua Mãe todos os homens e especialmente os seus discípulos: os que haviam de crer n’Ele.
Felix culpa, canta a Igreja, feliz culpa, porque conseguiu tal e tão grande Redentor. Feliz culpa, podemos nós acrescentar, porque nos mereceu recebermos por Mãe Santa Maria. Já estamos seguros, já nada nos deve preocupar. Porque Nossa Senhora, coroada Rainha dos céus e da terra, é a onipotência suplicante diante de Deus. Jesus não pode negar nada a Maria, e também a nós, que somos filhos da sua própria Mãe.
Amigos de Deus, 288
Sexta dor: Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe
Chegada já a tarde, como era a parasceve, isto é, a véspera do sábado, José de Arimateia, responsável membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, foi corajosamente procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos admirou-se d’Ele já estar morto e, mandando chamar o centurião, preguntou-lhe se já tinha morrido. Informado pelo centurião, ordenou que o corpo fosse entregue a José. Este, depois de comprar um lençol; tirou Jesus da cruz e envolveu-O nele. Em seguida, depositou-O num sepulcro cavado na rocha e rolou uma pedra contra a porta do sepulcro (Mc 15, 42-46).
Situados agora perante o momento do Calvário, em que Jesus já morreu e ainda se não manifestou a glória do seu triunfo, temos uma excelente ocasião para examinarmos os nossos desejos de vida cristã, de santidade; para reagirmos com um ato de fé perante as nossas fraquezas e, confiantes no poder de Deus, fazermos o propósito de depositar amor nas coisas do nosso dia-a-dia. A experiência do pecado tem que nos conduzir à dor, a uma decisão mais amadurecida e mais profunda de ser fiéis, de nos identificarmos deveras com Cristo, de perseverar custe o que custar nessa missão sacerdotal que Ele confiou a todos os seus discípulos sem exceção, e que nos impele a ser sal e luz do mundo.
É Cristo que passa, 96
É o momento de acudires à tua Mãe bendita do Céu, para que te acolha em seus braços e te consiga do seu Filho um olhar de misericórdia. E procura depois fazer propósitos concretos: corta de uma vez, ainda que doa, esse pormenor que estorva e que Deus e tu conheceis bem. A soberba, a sensualidade, a falta de sentido sobrenatural aliar-se-ão para sussurrar-te: Isso? Mas se se trata de uma circunstância boba, insignificante! E tu respondes, sem dialogar mais com a tentação: Entregar-me-ei também nessa exigência divina! E não te faltará razão: o amor se demonstra de modo especial em ninharias. Ordinariamente, os sacrifícios que o Senhor nos pede, os mais árduos, são minúsculos, mas tão contínuos e valiosos como o bater do coração.
Amigos de Deus, 134
Sétima dor: dão sepultura ao Corpo de Jesus
Depois disto, José de Arimateia, o que era discípulo de Jesus, mas em segredo, por medo dos judeus, pediu a Pilatos para levar o Corpo de Jesus. Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e tirou o Seu Corpo. Veio também Nicodemos, aquele que, anteriormente, se dirigira de noite a Jesus, trazendo uma composição de quase cem libras de mirra e aloés. Tomaram o Corpo de Jesus e envolveram-no em ligaduras, juntamente com os perfumes, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus. No lugar em que Ele tinha sido crucificado, havia um horto e, no horto, um túmulo novo, no qual ninguém fora ainda sepultado. Por causa da Preparação dos judeus, como o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus (Jo 19, 38-42).
Para terminar este tempo de conversa com o Senhor, vamos pedir-lhe agora que nos conceda a graça de repetir, com São Paulo, que triunfamos pela virtude dAquele que nos amou. Razão pela qual estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem o presente, nem o futuro, nem a força, nem o que há de mais alto ou de mais profundo, nem qualquer outra criatura poderá jamais separar-nos do amor de Deus, que está em Jesus Cristo, Nosso Senhor.
É deste amor que a Escritura canta também com palavras ardentes: As águas copiosas não puderam extinguir a caridade, nem os rios arrastá-la. Foi este amor que cumulou sempre o Coração de Santa Maria, até enriquecê-la com entranhas de Mãe para com a humanidade inteira. Na Virgem, o amor a Deus confunde-se também com a solicitude por todos os seus filhos. O seu Coração dulcíssimo, atento até aos menores detalhes – não têm vinho -, deve ter sofrido muito ao presenciar aquela crueldade coletiva, aquele encarniçamento que foi, da parte dos verdugos, a Paixão e Morte de Jesus. Mas Maria não fala. Como seu Filho, ama, cala e perdoa. Essa é a força do amor.
Amigos de Deus, 237
Fonte: opusdei.org