Dia 20 – SEGUNDA-FEIRA
2ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Toda a terra vos adore com respeito e proclame o louvor do vosso nome, ó Altíssimo (Sl 65,4).
A tentação do orgulho acompanha a humanidade ao longo da história. Cristo veio para o meio de nós de forma humilde e simples. Ele nos ensinou o jejum livre da soberba, que nos faz crescer no amor. Celebremos o compromisso de viver a novidade do Evangelho em nossa vida cotidiana.
Leitura da carta aos Hebreus – 1Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza. 3Por isso, deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados do povo quanto pelos seus próprios. 4Ninguém deve atribuir-se essa honra, senão o que foi chamado por Deus, como Aarão. 5Desse modo, também Cristo não se atribuiu a si mesmo a honra de ser sumo sacerdote, mas foi aquele que lhe disse: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”. 6Como diz em outra passagem: “Tu és sacerdote para sempre, na ordem de Melquisedeque”. 7Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus. 8Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. 9Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem. 10De fato, ele foi por Deus proclamado sumo sacerdote na ordem de Melquisedeque. – Palavra do Senhor.
Tu és sacerdote eternamente / segundo a ordem do rei Melquisedeque!
1. Palavra do Senhor ao meu Senhor: / “Assenta-te ao lado meu direito / até que eu ponha os inimigos teus / como escabelo por debaixo de teus pés!” – R.
2. O Senhor estenderá desde Sião † vosso cetro de poder, pois ele diz: / “Domina com vigor teus inimigos. – R.
3. Tu és príncipe desde o dia em que nasceste; † na glória e esplendor da santidade, / como o orvalho, antes da aurora, eu te gerei!” – R.
4. Jurou o Senhor e manterá sua palavra: † “Tu és sacerdote eternamente, / segundo a ordem do rei Melquisedeque!” – R.
Aleluia, aleluia, aleluia.
A Palavra do Senhor é viva e eficaz: / ela julga os pensamentos e as intenções do coração (Hb 4,12). – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 18os discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Então, vieram dizer a Jesus: “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?” 19Jesus respondeu: “Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar. 20Mas vai chegar o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; aí, então, eles vão jejuar. 21Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha, porque o remendo novo repuxa o pano velho e o rasgão fica maior ainda. 22Ninguém põe vinho novo em odres velhos, porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos”. – Palavra da salvação.
Palavras do Santo Padre
O estilo acusatório é o estilo dos crentes que procuram sempre acusar o próximo, vivem acusando: “Não, mas isto, isso, não, aquele não está certo, ele era um bom católico” e sempre desqualificam os outros. É um estilo — diria — de promotores de justiça falhados: procuram sempre acusar o próximo. Mas agindo assim não se dão conta de que é o estilo do diabo: na Bíblia o diabo é chamado o “grande acusador”, acusa sempre os outros. […] O Senhor ofereceu-te o vinho novo, mas tu não mudaste os odres, não os mudaste. A mundanidade, arruína muitas pessoas, muita gente! Até pessoas boas entram neste espírito da vaidade, da soberba, do aparecer… Não há humildade, mas a humildade faz parte do estilo cristão. Por isso «devemos aprendê-la de Jesus, de Nossa Senhora, de São José: eram humildes. […] O estilo cristão consiste nas Bem-Aventuranças: mansidão, humildade, paciência nos sofrimentos, amor pela justiça, capacidade de suportar as perseguições, não julgar o próximo. Eis o espírito cristão, o estilo cristão: se quiseres saber como é o estilo cristão — para não cair neste estilo acusatório, no estilo mundano, no estilo egoísta — lê as Bem-Aventuranças. Este é o nosso estilo, as Bem-Aventuranças são os odres novos, o caminho a percorrer: para ser um bom cristão é preciso ter a capacidade de recitar o Credo com o coração, mas também de rezar o Pai-Nosso com o coração. (Homilia na Capela da Casa Santa Marta, 21 de janeiro de 2019)
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Antes da santidade, penitência
“Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?”
O Evangelho de hoje nos apresenta uma pergunta curiosa: por que os discípulos de João jejuavam, e os discípulos de Jesus não? Cristo responde com uma metáfora a respeito do noivo: “Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar” (Mc 2, 19).
O que realmente está por trás desse contraste entre Jesus e São João Batista? Na realidade, estamos falando de duas fases da vida espiritual, que podemos entender como o tempo do Antigo e o do Novo Testamento. No Antigo Testamento, Deus preparou o povo através da Lei, de penitências e de sacrifícios, para que ele tivesse um coração bem disposto para receber Jesus. É claro que na época de Cristo nem todos os judeus estavam preparados, mas havia aqueles poucos justos de Israel, como o profeta Simeão, São Zacarias e Santa Isabel, que aguardavam ansiosamente, de coração bem disposto, a vinda do Messias.
Como era possível esses justos terem um coração bem disposto? Porque eles cumpriam os Mandamentos de Deus e viviam aquilo que nós chamamos de via purgativa, ou seja, a primeira fase da vida espiritual. Precisamos entender que devemos nos esforçar asceticamente para nos livrar de nossos defeitos e pecados grosseiros. Uma vez que nos livramos deles, adquirimos duas missões básicas: controlar o instinto da ira e do desejo carnal.
Na fase purgativa, temos de exercer intensamente as virtudes da pureza e da paciência. Infelizmente, muitas pessoas não enxergam isso e já querem entrar na segunda fase da vida espiritual sem ter feito a “tarefa de casa”, controlando os dois cavalos selvagens que estão dentro de nós: o do desejo, portanto pureza, e o da raiva, portanto paciência.
Trabalhando a delicadeza de consciência, a paciência e a pureza, vamos nos purificando, mas tendo antes de tudo superado os defeitos mais grosseiros, pois é apenas assim que começamos verdadeiramente a ver frutos de santidade e graça de Deus brotar mais claramente em seus efeitos visíveis. Na vida espiritual, isso é chamado de “passagem pela porta estreita”.
Somente depois de termos superado essa fase é que entramos na via iluminativa que Jesus veio trazer para nós. Por que no início da Igreja tantas pessoas se santificavam? Porque, durante séculos, Deus tinha preparado essas pessoas pela via purgativa, pela purificação, a fim de receberem a graça de entrar na vida de santidade propriamente dita. Contudo, por que hoje nem todos entram nesse caminho de santidade? Porque somos preguiçosos. Não queremos fazer a “tarefa de casa” do Antigo Testamento, que é a penitência, o jejum, a respeito do qual nos fala o Evangelho de hoje.
Sim, é verdade que os convidados do casamento não jejuam na presença do noivo, mas é também verdade que nós não iremos nos preparar devidamente para a presença graciosa de Nosso Senhor Jesus Cristo, se não vivermos a purificação, o trabalho braçal do início da vida espiritual. Cheios de pureza e de grande paciência, com uma vida séria de penitência para nos controlar e ficarmos nos trilhos, deixemos de ser preguiçosos e obedeçamos aos Mandamentos.
Padre Paulo Ricardo