Meditações Dominicais – XXV Domingo do Tempo Comum – Ano B
Queridos irmãos e irmãs
No Evangelho deste domingo, Jesus anuncia pela segunda vez aos discípulos a sua paixão, morte e ressurreição (cf. Mc 9, 30-31). O evangelista Marcos põe em evidência o forte contraste entre a sua mentalidade e a dos doze Apóstolos, que não só não compreendem as palavras do Mestre e rejeitam categoricamente a ideia de que Ele vá ao encontro da morte (cf. Mc 8, 32), mas discutem entre si sobre quem deve ser considerado “o maior” (cf. Mc 9, 34). Jesus explica-lhes com paciência a sua lógica, a lógica do amor que se faz serviço até à entrega de si mesmo: “Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos” (Mc 9, 35).
Esta é a lógica do Cristianismo, que corresponde à verdade do homem criado à imagem de Deus, mas ao mesmo tempo contrasta com o seu egoísmo, consequência do pecado original. Cada pessoa humana é atraída pelo amor que afinal é o próprio Deus mas muitas vezes erra nos modos concretos de amar, e assim de uma tendência origenalmente positiva mas maculada pelo pecado, podem derivar intenções e acções más. É o que nos recorda, na liturgia hodierna, também a Carta de São Tiago: “Onde há inveja e espírito faccioso também há perturbação e todo o género de obras más. Mas a sabedoria que vem do alto é, em primeiro lugar, pura; depois, é pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia”. E o Apóstolo conclui: “É com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz” (3, 16-18).
Estas palavras fazem pensar no testemunho de muitos cristãos que, com humildade e no silêncio, consomem a própria vida ao serviço dos outros, pela causa do Senhor Jesus, trabalhando concretamente como servos do amor e, por isso, “artífices” da paz. Por vezes pede-se a certas pessoas o supremo testemunho do sangue, como há poucos dias aconteceu também com a religiosa italiana Ir. Leonellla Sgorbati, que morreu vítima da violência. Esta religiosa, que desde há muitos anos servia os pobres e os pequeninos na Somália, expirou pronunciando a palavra “perdão”: este é o mais autêntico testemunho cristão, sinal pacífico de contradição que demonstra a vitória do amor sobre o ódio e o mal.
Não há dúvida de que seguir Cristo é difícil, mas como Ele mesmo diz, somente quem perde a sua vida por causa dele e do Evangelho salvá-la-á (cf. Mc 8, 35), dando pleno sentido à sua própria existência. Não existe outro caminho para ser seus discípulos, não há outro caminho para dar testemunho do seu amor e tender para outra perfeição evangélica. Que Maria, hoje por nós invocada como Bem-Aventurada Virgem das Mercês, nos ajude a abrir cada vez mais o nosso coração ao amor de Deus, mistério de alegria e de santidade.
PAPA BENTO XVI
ANGELUS
Castel Gandolfo, 24 de Setembro de 2006