XXIV Domingo do Tempo Comum – Ano A
Não precisa ser muito bom em matemática para descobrir que setenta vezes sete é igual a “sempre!” Como? Claro que sim, se 70×7=490, então 70×7=sempre. Está bem: concedamos que esta lógica matemática não seja exatamente perfeita, mas também concedamos que na lógica de Cristo a conta esteja bem feita. É preciso perdoar sempre porque agrada a Deus, porque os primeiros beneficiados somos nós mesmos e porque, finalmente, é um grande bem fraterno-social.
Perdoar agrada muito a Deus porque nos faz semelhantes a ele. Deus perdoa sempre! Não importa quantas vezes peçamos perdão e nem importa se são os pecados de sempre, se estamos arrependidos o Senhor nos perdoará. É o que experimentamos no sacramento do perdão e da alegria, na confissão. Santo Agostinho, pensando no pecado de Judas, escreveu: “se ele tivesse orado em nome de Cristo teria pedido perdão, se tivesse pedido perdão teria esperança, se tivesse esperança teria esperado na misericórdia e não teria se enforcado desesperadamente”. Não temos motivo para desesperar-nos. O pensamento de São Máximo de Turim é irrefutável: “se o ladrão obteve a graça do paraíso, por que o cristão não há de obter o perdão?”. Sendo assim, confiemos sempre na misericórdia do Senhor, façamos um propósito de mudança de vida, confessemos os nossos pecados e… Confiança, alegria, paz… Comecemos novamente! Perdoando os nossos semelhantes, quantas vezes for preciso, estaremos imitando o próprio Deus e essa semelhança nas ações atrairá maiores graças para as nossas futuras decisões.
Nós somos os primeiros a aproveitar-nos da graça de perdoar. O perdão atrai o olhar misericordioso de Deus rumo a nós e nos faz serenos no dia-a-dia. Uma pessoa que sabe que não tem inimigo vive em paz. Como saber que eu não tenho inimigo? É simples, é só não considerar ninguém como inimigo. Talvez os outros possam até considerar-nos seus inimigos desde algum ponto de vista. O problema é deles! Nós, da nossa parte, não consideraremos a ninguém como nosso inimigo. A bondade do coração cristão é o melhor remédio para curar os males do coração alheio. Mais cedo ou mais tarde, os outros pensarão: “Por que mexer com uma pessoa que só quer o meu bem? Por que irritar uma pessoa que se mostra sempre amável comigo? Por que chatear a alguém que só quer que eu seja feliz? Por que tentar ser inimigo de alguém que não fica meu inimigo?” Canta-se belamente essa oração, porém há maior formosura no realizá-la: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união”.
O perdão constrói as relações de amizade e todas as relações sociais. Quanto há compreensão e perdão entre amigos, essa amizade perdurará apesar dos pesares. Os nossos amigos são pessoas como nós, com virtudes e defeitos; se nós, porém, não compreendermos que eles nem sempre se comportarão virtuosamente é sinal de que ainda não somos bons amigos. Até Deus permite que nós erremos, deixa que pequemos, isto é, Deus respeita até o mau uso da nossa liberdade e… continua nos amando, nos perdoando. Nós não podemos sufocar as pessoas sendo intransigentes e insuportáveis; ao contrário, devemos compreender quem está no erro sem minimizar as exigências da doutrina e da moral cristã.
Sempre assisto prazerosamente aquele belíssimo filme de Fred Zinnemann, baseado no livro de Robert Bolt, sobre S. Tomás Moro, “Um homem que não vendeu a sua alma”. Uma das primeiras cenas é aquela conversa entre um cardeal pouco escrupuloso que ironiza a confiança de Tomás Moro na oração da seguinte maneira: “então, você gostaria de governar um país com orações?”. Tomás lhe responde decididamente: “sim, gostaria”. Poderíamos parafrasear essa ideia: construir as relações sociais sob o perdão? E respondamos com toda paz: sim, é possível.
Pe. Françoá Costa