Humildade de coração
Homilia do Padre Françoá Costa – XIV Domingo do Tempo Comum – Ano A
Jesus é “manso e humilde de coração” ( Mt 11,29) e quer que nós também o sejamos. Como é bom conviver com pessoas humildes, mansas e cordiais! Pelo contrário, como é desagradável estar perto de gente emproada, complicada e altiva. A mansidão e a humildade, além de serem virtudes que agradam o coração de Deus, são disposições que tornam mais fácil a convivência humana. O orgulho nos faz ridículos, a humildade nos mostra transparentes, pois – como dizia S. Teresa de Jesus – “humildade é andar na verdade”. C. S. Lewis explicava de maneira bastante clara o porquê Deus deseja ver-nos humildes: “Deus tenta nos tornar humildes para que seja possível o momento de lançarmos fora a tola e horrenda fantasia com que nos adornamos e que nos entravava os movimentos, enquanto a exibíamos por aí feito idiotas”. Falando bem claro: a humildade e a mansião revelarão o nosso autêntico “eu” e nos fará exultar em Deus.
Algumas pessoas acham-se tolamente muito importantes. Talvez ajude a explicar tal contradição a seguinte fábula tirada de Julio Eugi: uma mosca descansava sobre o chifre de um boi. Este balançou a cabeça, como faz habitualmente, e a mosca achou que o estava atrapalhando, e disse-lhe: – Se o meu peso o incomoda, pode dizer, que eu vou a outro lugar. O boi respondeu, divertido: – Muito obrigado pelo aviso, dona mosca, pois nem tinha percebido que a senhora estava aí.
Diante de Deus somos o que somos, nem mais nem menos, com qualidades e defeitos, com méritos e deméritos, gente boa com coisas não tão boas. É preciso ter bem claro tudo isso na própria vida para saber exigir os próprios direitos, cumprir os próprios deveres e dar a devida honra e glória a Deus. Ter a consciência bem formada na humildade nos ajudará também a não praticar a falsa humildade, que consiste, entre outras coisas, em negar as nossas qualidades ou em andar por aí expondo-as sem necessidade. Somos o que somos e o que somos devemos a Deus, a quem seja toda a honra e toda a glória através de nós e de nossas ações! E quanto à mansidão? Sem dúvida alguma, a mansidão vem pela humildade. Peçamos a Deus a humildade, e a mansidão também virá.
Talvez você nunca tenha pensado nisso, mas se o sol fosse do tamanho duma bolinha de tênis, a terra seria uma esfera com 1 milímetro de diâmetro e… nós, quem seríamos? Mais uma: o universo tem uma idade de aproximadamente 14 a 18 bilhões de anos… o que significa viver 80 anos? A última: se fizéssemos um filme da história do universo que durasse um ano, talvez aparecêssemos em 0,17 segundos. Dizia S. Josemaria Escrivá: “É uma grande coisa saber-se nada diante de Deus, porque é assim mesmo” (Sulco 260).
Um bispo espanhol ao fazer uma visita pastoral tentou explicar a um jovenzinho já bastante desinformado da vida da Igreja. O rapazinho tinha uns 12 ou 13 anos. O bispo lhe disse: – escuta, você sabem quem sou eu? – não. – Então vou lhe dar umas dicas: tenho o costume de utilizar um chapéu com duas pontas, um cajado de ouro ou de prata e um anel bem grosso no dedo; além do mais, vou acompanhado por muitas pessoas nas cerimônias. Você já sabe quem sou eu? – Sim. Você é um mauricinho exibido. Nada contra as sagradas vestes dos bispos, mas… infelizmente o rapaz concluiu de outra maneira!
Volto a uma consideração anterior: quem somos nós? O que somos diante de Deus… e nada mais! O importante é o que Deus pensa de nós: atuemos com retidão de intenção, sem exibicionismos, vivendo a humildade dos cavaleiros cristãos: com nobreza e em verdade. Nada de renunciar a direitos legítimos, nem de viver com uma mentalidade pegada a coisinhas de nada e sem metas. Isso não! Talvez nos dirão que somos orgulhosos, que nos vestimos bem ou coisas semelhantes… Mais a humildade não está necessariamente nessas coisas… A humildade? É andar na verdade!
Pe. Françoá Costa