II Domingo do Advento
João Batista é modelo de homem forte: ele “apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão (…). João Batista andava vestido de pelo de camelo e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.” (Mc 1,4-6). A figura do Batista ergue-se no Tempo do Advento como precursor do Senhor, homem cheio de fortaleza divina e humana que levou a sério o chamado que Deus lhe fez. Ele, austero consigo mesmo, pedia a conversão dos outros.
A virtude da fortaleza é importante tanto no começo da conversão, para empreender o árduo e belo caminho da santidade, como durante toda a vida para perseverar no mesmo. À fortaleza estão unidas muitas outras virtudes como a magnanimidade, a magnificência, a longanimidade, a perseverança e a constância. A fortaleza nos dispõe para que não desistamos de conseguir aqueles bens que são árduos e difíceis, ainda que a sua consecução levem consigo a própria morte. As pessoas fortes têm firmeza no agir.
Como toda virtude, também a fortaleza necessita que nós a pratiquemos. Como? Atacando e resistindo: atacamos para defender o bem e resistimos para não retroceder em relação ao bem já alcançado. Sem dúvida, dessas duas ações a mais importante é resistir. Por isso se diz que o martírio é o ato supremo da virtude da fortaleza.
João Batista sofreu o martírio por anunciar, defender e viver a verdade. Se ele não fosse um homem forte diante das ameaças, ele teria deixado de lado a sua missão. É preciso muita fortaleza para que não desanimemos de cumprir todos os dias, e durante toda a vida, os nossos deveres familiares e profissionais: dedicação carinhosa à esposa ou ao esposo, estar com os filhos educando-os e divertindo-se com eles, chegar pontualmente ao trabalho e dar o máximo de si, ajudar aqueles que estão sob a nossa orientação com caridade e com justiça. Quem não vence o comodismo, mais cedo ou mais tarde pode vir a ser um traidor!
Uma das coisas mais atraentes na personalidade de João Batista é a coragem que ele tinha de ser ele mesmo. Ele não se massificava, não era uma espécie de “Maria vai com as outras”, não era agitado pelos ventos das variadas opiniões. Era um homem forte! Uma personalidade rija e madura como a do Batista chama sempre a nossa atenção. Por mais que se exaltem valores brandos e raquíticos, a tendência de todo ser humano é continuar admirando os heróis, aqueles que não ficam contentes em fazer simplesmente o que todo o mundo faz.
O normal deveria ser a boa educação, a generosidade, a bondade, a honestidade, a castidade, a piedade. Não obstante, a cultura atual mostra os contra valores com carta de normalidade: pratica-se na “cara dura” a falta de educação, o elogio dos egoístas e desonestos, a luxuria é exaltada e a impiedade vai reinando. É preciso que se apresentem nos mais variados cenários das atividades deste mundo homens e mulheres fortes que, com santa rebeldia, também tenham coragem de ser eles mesmos e, com alegria e paz, ofereçam os autênticos valores aos seus semelhantes. Hoje em dia, como em todos os tempos, a fortaleza é uma das virtudes mais necessárias para o cristão que queira manter a sua lealdade e fidelidade a Jesus Cristo.
Deus nos concede fortaleza elevando aquela disposição natural que há em nós para trabalhar na consecução do bem, virilizando a nossa vontade para que não desanimemos diante da opinião da “maioria”, dando-nos energia para resistir. S. Josemaria gostava de dizer que “toda a nossa fortaleza é emprestada” (Caminho, 728). Também nós podemos rezar com o salmista: “pois vós, ó meu Deus, sois minha fortaleza” (Sl 42,2).
Ao saber que Deus é a nossa fortaleza, deveríamos apoiar-nos mais nele e menos em nós. Santa Teresa, como todos os santos, eram conscientes dessa realidade. Ela se apoiava na oração: “quando eu estava em oração, via que eu saia de lá melhorada e com maior fortaleza” (S. Teresa de Ávila, Vida, 23,2). Efetivamente, além da fortaleza que é virtude cardeal, existe a fortaleza que é um dos sete dons do Espírito Santo. Por este dom “o Espírito Santo move interiormente o homem para que leve a término qualquer obra começada e se veja livre de qualquer perigo que o ameace. Há casos no qual o homem não pode levar a cabo as suas obras ou escapar dos males ou perigos, pois às vezes o agonizam até causar-lhe a morte. (…) O Espírito Santo infunde na alma do homem uma confiança especial que exclui todo temor contrário.” (S. Tomás de Aquino, S.Th. II-II, 139, 1c). Peçamos ao Espírito Santo que nos conceda o dom da fortaleza.
Pe. Françoá Costa