André e João “foram e ficaram com ele aquele dia” (Jo 1,39). Também a nós foi dado um dia para que permaneçamos com Jesus, o domingo. Nós, os cristãos, precisamos redescobrir o domingo como o kyriaké, Dies Domini, Dia do Senhor. Não deixa de chamar a atenção como às vezes a Missa dominical é vista mais como um preceito do que como um encontro necessário à vida de um filho de Deus. O preceito de fato existe, pois a Igreja quis garantir um mínimo vital para o cristão: participar da Missa aos domingos e dias santos. A razão da lei da Igreja não é o preceito em si, mas esse mínimo vital do qual falávamos antes. Os primeiros cristãos compreendiam bem essa realidade quando, por exemplo, quarenta e nove cristãos da cidade de Abitene (na atual Tunísia) foram surpreendidos numa celebração dominical, apesar das ordens contrárias do imperador. Perguntados por que tinham desobedecido às ordens imperais, Emérito, um dos participantes daquela eucaristia, deu a seguinte resposta: sine domínico non possumus, ou seja, nós, os cristãos, não podemos ser, nem existir, nem viver sem a celebração da Eucaristia dominical.
É-nos necessário o domingo! Esse foi o dia feito por Deus para que fiquemos bem perto dele. Como canta o Salmista: “Esse é o dia que o Senhor fez: seja para nós dia de alegria e de felicidade” (Sl 117,24). Antes, durante a antiga a aliança, foi o sábado; depois da Ressurreição de Jesus, os cristãos seguem o domingo. O sábado, celebração da criação e do repouso de Deus, era figura da realidade que o domingo significa: a nova criação e o repouso eterno iniciados com a ressurreição do Senhor Jesus. O apóstolo Paulo deixou bem claro que os cristãos já não devem sentir-se vinculados ao sábado: “ninguém, pois, vos critique por causa de comida ou bebida, ou espécies de festas ou de luas novas ou de sábados. Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo” (Cl 2,16-17). Santo Inácio de Antioquia (+110 d.C.) explicou aos cristãos de Magnésia a passagem do sábado para o domingo da seguinte maneira: “aqueles que viviam na antiga ordem das coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte” (Aos Magn., 9,1). Obviamente, tais afirmações não resultam um desprezo para com as prescrições do Antigo Testamento, de fato o Catecismo diz o seguinte: “o culto dominical cumpre o preceito moral da Antiga Aliança, cujo ritmo e espírito retoma ao celebrar cada semana o Criador e o Redentor de seu povo” (Cat. 2176). O Antigo Testamento cumpriu a sua missão de preparação em relação ao Novo e, diria mais, continua cumprindo; mas quando chegou a realidade, Cristo, já não tem sentido continuar insistindo nas figuras antigas.
O domingo é o dia para que também nós façamos como João e André: permanecer com o Senhor! Como? Em primeiro lugar, participando da Missa dominical em comunhão com os nossos irmãos. É na Eucaristia que nós encontramos o acontecimento fundacional do dia do Senhor, ou seja, o Mistério Pascal da Paixão, Morte e Glorificação de Jesus Cristo. Este também é o acontecimento fundacional da nossa nova vida em Cristo. Podemos entrar em contato com a grande Páscoa de Cristo na páscoa dominical. Daí que nós não podemos dizer: “ah, eu rezo em casa, não vou à igreja”. É na celebração eucarística que se atualiza de maneira misteriosa o acontecimento que nos deu nova vida e é no domingo que nós celebramos o triunfo de Cristo sobre o demônio, o pecado e a morte. São João Crisóstomo explicava aos cristãos do seu tempo: “não podes rezar em casa como na Igreja, onde se encontra o povo reunido, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. Há ali algo mais, a união dos espíritos, a harmonia das almas, o vinculo da caridade, as orações dos presbíteros” (Incomprehens. 3,6).
Em segundo lugar, podemos permanecer com o Senhor encontrando-o nos nossos semelhantes. O domingo é o dia da caridade, do serviço generoso e do descanso que também faz descansar os outros. “Durante o domingo e os outros dias de festa de preceito, os fiéis se absterão de se entregar aos trabalhos ou atividades que impedem o culto devido a Deus, a alegria própria ao dia do Senhor, a prática das obras de misericórdia e o descanso conveniente do espírito e do corpo” (Cat. 2185). Tudo isso, porque “Esse é o dia que o Senhor fez: seja para nós dia de alegria e de felicidade” (Sl 117,24).
Pe. Françoá Costa