Neste domingo, a Igreja proclama o Evangelho de São Lucas, capítulo 17, dos versículos 5 ao 10, cujo tema principal é a fé. Chegando-se a Jesus, seus seguidores pedem-lhe: “Senhor, aumenta a nossa fé” (Lc 17, 5).
O Evangelho apresenta essa petição dos discípulos para nos ensinar que, na vida espiritual, a fé é o princípio vital; ela é como o tubo de oxigênio que mantém o mergulhador vivo debaixo d’água. É isso que está expresso também na Primeira Leitura, do livro de Habacuc: “O justo viverá pela fé” (Hab 2, 4). E essas palavras do Profeta são tão importantes que São Paulo as repete várias vezes, como uma antífona, em suas cartas.
Mas o católico médio que vai à Igreja aos domingos não se dá conta de que sua fé ainda é pouca. A maior parte de nós não faz a oração que os Apóstolos fizeram no início deste Evangelho: “Senhor, aumenta a nossa fé”. E aqui está o grande problema: só pedimos bens materiais, e mesmo quando somos mais fervorosos, esperamos receber virtudes como amor e solidariedade, mas nada de fé. Na minha experiência como confessor, sempre oriento as pessoas que sofrem situações dramáticas por conta do pecado a pedirem mais fé. E muitas delas sentem-se ofendidas por causa do meu conselho, mas me apresso para esclarecer: elas têm fé — por isso vieram se confessar —, mas é preciso fazer essa fé crescer.
E isso é tão verdadeiro que, para chamar a atenção dos Apóstolos para essa realidade, Nosso Senhor como que os humilha. Isso porque, confiantes, os seguidores de Jesus vão até Ele pedir mais fé, mas em resposta Nosso Senhor lhes diz: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui, planta-te no mar’, e ela vos obedeceria’” (Lc 17, 6). Com essas palavras, Jesus também nos humilha, porque quer nos ensinar que, na vida espiritual, fé e humildade andam de mãos dadas. Aliás, é sobre essas virtudes que fala o Evangelho de hoje, dividido em duas partes: o grão de mostarda, que fala da fé; e o servo inútil, que nos fala sobre a virtude da humildade.
É importante observar aqui que Jesus, de fato, humilha os Apóstolos. Pode parecer espantoso dizer isso, mas o método de Jesus é a humilhação. Vejamos, por exemplo, no Evangelho de São João, capítulo 3, Nicodemos, cheio de dúvidas, sai à procura de Cristo durante a noite, e é humilhado por Ele: “Tu que és mestre em Israel, não sabes destas coisas?” (Jo 3, 10). Mas a beleza dessa passagem é o fato de que Nicodemos aceita a humilhação e, justamente por isso, Jesus se revela a ele — até então Nosso Senhor não havia se revelado a ninguém. Jesus revela a Nicodemos o mistério da Encarnação e o da Redenção: “Quando eu for elevado, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32). Já na sequência, no capítulo 4, São João apresenta o relato da samaritana. Ela foi tirar água do poço, onde encontra Jesus, que lhe diz: “Vai chamar o teu marido” (Jo 4, 16), mas ela diz que não tem marido. E então Nosso Senhor aplica o seu método: “Tens razão em dizer que não tens marido. Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; nisto disseste a verdade” (Jo 4, 16-18). E assim, como Nicodemos, a samaritana também aceita a humilhação vinda de Jesus. Ele é a luz que mostra quem somos de verdade.

Muitos que ouvem a Palavra não chegam a dar o passo da fé porque preferem permanecer nas trevas, como Jesus diz a Nicodemos: “Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más” (Jo 3, 19). E o caminho para a luz, que é Cristo, é justamente o caminho que nos conduz para fora da penumbra e nos leva para a luz da verdade. A luz nos humilha, porque revela quem realmente somos; mas, se aceitamos essa humilhação, alcançaremos a fé. Eis o caminho para seguir a Cristo.
Vejamos, por exemplo, São Paulo no caminho para Damasco: altivo, ele seguia “respirando ameaças e morte” (At 9, 1) contra os cristãos, achando-se um grande justo, um homem zeloso. Mas também Paulo foi humilhado por Jesus. Com a sua luz, Nosso Senhor ofusca-lhe a visão, deixando-o cego, com escamas nos olhos. E foi grande a humilhação de Paulo: desorientado, ele teve de ser carregado por seus amigos. Mas porque ele também aceitou essa humilhação, foi iluminado pelo Batismo, recebendo novamente a presença de Cristo.
E nós vemos essa pedagogia da humilhação também na vida de outros santos, como Santa Teresa d’Ávila. No seu “Livro da Vida”, Teresa nos diz claramente que todas as graças que ela recebeu, como a transverberação, os êxtases e as levitações, foram recebidas quando ela se sentia muito ruim. Eis aí a mulher humilde. Deus infunde na alma de Santa Teresa uma grande humildade, mas inicialmente essa infusão não é nada agradável, pois somos realmente desmascarados. É como diz São João na carta à Igreja de Laodicéia, no livro do Apocalipse: “Assim fala o Amém, a testemunha fiel” (Ap 3, 14). Ou seja, Jesus é a testemunha fiel; mas Laodicéia não crê nele. Por isso, diz a Escritura, “conheço as tuas obras: que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és nem frio nem quente, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Ap 3, 15-16). Nossa fé é tíbia, eis a nossa miséria.
O Evangelho deste domingo nos convida a reconhecermos nossa mornidão; Jesus mostra que a nossa fé não tem sequer o tamanho de um grão de mostarda. Ele nos mostra, com sua pedagogia da humilhação, o quão pequenos somos. No entanto, insistimos em ser arrogantes, como Laodicéia: “Sou rico e abastado e não careço de nada” (Ap 3, 17). Mas Jesus desmascara a Igreja de Laodicéia, dizendo: “Não sabes que és miserável, e pobre, e cego, e nu” (Ap 3, 17). Se reconhecermos nossa miséria, Jesus irá revelar-se a nós, assim como Ele se revelou a Nicodemos, à samaritana, a São Paulo e a Santa Teresa d’Ávila. Jesus irá revelar-se à Igreja de Laodicéia se ela, humilhando-se, reconhecer que é infeliz, pobre, cega e nua.
E o que acontece quando nos humilhamos diante do Senhor? A resposta é dita num dos mais belos versículos da Sagrada Escritura: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo” (Ap 3, 20). É Jesus quem deseja nos iluminar com a sua verdade, mas não devemos ficar acanhados se essa luz revela a nossa nudez. Precisamos reconhecer que sem Ele somos verdadeiramente infelizes.
Ora, para encontrarmos Jesus, que é a fonte da nossa felicidade, a nossa riqueza e a nossa luz, precisamos assumir que somos infelizes, pobres e cegos; para que nos revistamos de Cristo, precisamos admitir que estamos nus. Sim, é maravilhoso quando temos coragem para nos humilhar diante do Senhor.
Aliás, é isso que nos ensina a segunda parte deste Evangelho, a parábola do escravo inútil. Aqui, é oportuno observar que a tradução litúrgica do Brasil, que substitui “escravo” por “empregado”, é bastante inapropriada, porque prejudica o sentido da expressão, que é o da pessoa integralmente a serviço de outra. Ora, o escravo é uma propriedade, é uma coisa; ele não tem direitos trabalhistas, como denota a palavra “empregado” nos dias atuais. Podemos utilizar a palavra “empregado”, mas é preciso entender que Jesus estava se referindo a uma realidade existente na sua época: a escravidão. Se desconsideramos isso, perdemos a noção do que significa o senhorio de Cristo.
Aqui, Nosso Senhor está nos ensinando sobre a humildade: não pertencemos a nós mesmos, temos um Senhor; e, mesmo depois de cumprirmos todas as nossas obrigações, ainda somos servos inúteis. É claro que “servo inútil” aqui é uma hipérbole, ou seja, uma expressão figurada que indica um exagero, a fim de dizer que, mesmo depois de cumprirmos o nosso dever, ainda não merecemos nada, recompensa alguma. Mas, nesta parábola, o servo tem alegria de servir, pois sabe que foi feito justamente para isso. É a humildade total.
Essa humildade é necessária porque só assim teremos verdadeira fé. As pessoas têm grande dificuldade para dar o passo da fé, porque simplesmente não querem aceitar Jesus como a Verdade, o que implica mudar de opinião, aceitando imediatamente a Verdade conhecida, Jesus Cristo.
Em nossos dias, a atitude das pessoas é contrária à fé: somos ensinados a ser críticos, como se, para ser cristãos maduros, fosse necessário criticar tudo, desde o Magistério da Igreja até as palavras do próprio Jesus. Tudo isso se resume à falta de humildade que impede o passo da fé. São Paulo diz: “Se alguém transmite uma doutrina diferente e não se atém às palavras salutares de Nosso Senhor Jesus Cristo e ao ensino segundo a piedade, é um orgulhoso” (1Tm 6, 3-4). Se transmitimos uma doutrina diferente daquela dos Apóstolos, dos papas, do Magistério, dos santos e, em suma, diferente daquela pregada pela Igreja de dois mil anos, então somos orgulhosos. E São Paulo está dizendo isso no mesmo espírito daquela humilhação pedagógica de Jesus. Paulo, que caiu do cavalo no caminho de Damasco e teve um encontro com o Senhor, agora quer que nós também nos humilhemos e demos o passo da fé.
Somos não só orgulhosos, mas também ignorantes; tentamos ensinar aos outros, mas desconhecemos a Verdade. São Paulo diz que, agindo assim, somos como “alguém doentiamente preocupado com questões fúteis e contendas de palavras” (1Tm 6, 4). Falando assim, até parece que o Apóstolo andou estudando teologia moderna, porque é isso mesmo que acontece: teólogos presos a jogos linguísticos, contendas de palavras, andando em círculos, sem nunca avançar.
O fato é o seguinte: se nos humilharmos diante de Deus, passaremos a viver pela fé. Tanto é verdade que São Pedro diz: “Humilhai-vos debaixo da poderosa mão de Deus. Ele resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. Lançai sobre Ele as vossas preocupações, pois Ele tem cuidado de vós” (1Pe 5, 5-7).
Em resumo, no Evangelho deste domingo, Jesus quer nos ensinar uma atitude de fé. Sim, a fé precisa crescer, mas a fé da Igreja não vai se modificar. Somos nós que temos de mudar para que a fé cresça. É isso que São Paulo diz, na Segunda Leitura, ao exortar que guardemos o depósito da fé — essa fé perene da Igreja de dois mil anos. E isso só vai acontecer em nossas vidas quando formos humildes e aceitarmos a Verdade.
Por isso, vamos, neste domingo, pedir a Cristo que nos desmascare, que realmente brilhe sua luz sobre nós, revelando o quão pequena é a nossa fé, esse grãozinho de mostarda. Sim, precisamos fazer nossa fé crescer, mas, como na parábola do Evangelho, o grão de mostarda não vai se transformar numa grande árvore, sobre a qual os pássaros vêm procurar sombra, se ele não morrer primeiro. Eis aí o chamado para cultivarmos a humildade. Vamos, pois, enterrar nossa semente da fé na terra da humildade, para que ela cresça e dê frutos extraordinários de vida eterna.
Padre Paulo Ricardo