III Domingo da Páscoa – Ano B
Que alegria! Voltar a ver o Mestre. Foram os discípulos de Emaús que disseram: “não se nos abrasava o coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32). Quando eles ainda estão conversando sobre o que tinha acontecido com eles no caminho, Jesus aparece e lhes deseja a paz; ele continua a explicar-lhes sem interromper o argumento: “Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o quede mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos” (Lc 24,44).
Observe-se o seguinte: Jesus fala com eles recordando-lhes diretamente as profecias do Antigo Testamento e, indiretamente, as maravilhas de Deus outrora operadas. Isto é, as grandes obras que Deus operou noutros tempos continuam sendo uma referência para falar do Messias Salvador, que é Jesus Cristo. Contudo, o Antigo Testamento ganha todo o seu esplendor somente quando interpretado desde Cristo, é ele quem faz a interpretação das antigas escrituras de Israel. Neste sentido, o Concílio Vaticano II afirmou que “Deus, inspirador e autor dos livros dos dois Testamentos, dispôs sabiamente que o Novo Testamento estivesse escondido no Antigo, e o Antigo se tornasse claro no Novo” (DV 16). Na verdade, toda a Bíblia só tem sentido como revelação divina em Cristo e na Igreja. Desvincular a Escritura Sagrada de Cristo e da Igreja é transformá-lo num mero livro de literatura. Neste caso, eu não sei se ela teria muito êxito.
O católico deveria ler mais as Sagradas Escrituras; desconhecê-la é ignorar Jesus Cristo, já que a Bíblia dá testemunho de Jesus Cristo. Mas, lembremo-nos: ela deve ser entendida em Cristo e na Igreja.
O que se quer dizer com isso? Explicando-o de maneira negativa: não se deve fazer uma interpretação livre da Bíblia que vá contra o seu sentido verdadeiro no contexto de uma autêntica interpretação. De maneira positiva, deve-se afirmar que a Bíblia deve ser entendida no seu contexto, que é essencialmente um ambiente de fé e eclesial. Não nos esqueçamos que a Bíblia é fruto da Tradição: Jesus pregou, os apóstolos pregaram; tão somente depois foi colocado por escrito a pregação de Jesus e dos Apóstolos.
As pessoas que fazem livres interpretações da Bíblia, só que à margem da interpretação autêntica da Igreja Católica, acabam, de uma maneira ou outra, criando o seu próprio universo bíblico, que não é o de Cristo. Daí que há tantos cristãos com a mesma Bíblia e ao mesmo tempo há tantas denominações cristãs, as quais, frequentemente, brigam entre si. Isso é muito feio! A divisão entre os cristãos é um escândalo que provoca a incredulidade ou pelo menos não ajuda os outros a aproximarem-se da fé em Cristo.
Mas, porque há tantas interpretações da Bíblia e, simultaneamente, tantas “igrejas”? “Tantas cabeças, quantas sentenças!” Cada um quer manter a sua opinião, o seu parecer. Por minha vez, gosto de pensar que a Igreja Católica é como uma mãe, daquelas que já estão bem velinhas, mas com uma jovialidade digna de ser invejada por qualquer menininha de 15 anos. A idade da Igreja? Somente 2000 anos. A sua experiência é vastíssima: conhece muito bem aquelas coisas que se referem a Jesus Cristo, conhece melhor ainda aquelas coisas que se referem ao ser humano, viveu por entre derrotas de impérios e reis, sobreviveu a ataques ocultos e manifestos… Enfim, nada nem ninguém pode contra a Igreja Católica, pois Jesus quer que ela chega à escatologia. Agora eu pergunto: como se pode ir contra a autoridade de alguém que tem 2000 anos de experiência e que só nos ensina o caminho do bem, da verdade e do amor?
Nós, os católicos, temos resposta para qualquer pergunta. Pena que o cristão, frequentemente, não se preocupa em ser formado, em ler, em conhecer a Sagrada Escritura. No caso de que viesse a desviar-se, talvez colocaria a culpa nessa Mãe bondosa que é a Igreja e que só tem buscado o seu bem dando-lhe a verdade que é Cristo.
Pe. Françoá Costa